Bruno Horta conversa com Paolo Favero, autor de um novo documentário sobre o maior ícone do século XX português.
Esta é a improvável história de um italiano nascido há 43 anos em Rivarolo Canavese, pequena aldeia perto de Turim, filho de um italiano e de uma sueca, doutorado em Antropologia Social em 2005 e chegado a Lisboa em 2009 para dirigir uma pós-graduação no ISCTE sobre Culturas Visuais Digitais. Paolo Favero estava fadado para descobrir António Variações (1944-1984). Neste momento, prepara um filme documental sobre a figura mais excêntrica e amada do século XX português. Mas quando aterrou em Lisboa em Setembro de 2009 mal podia imaginá-lo.
O encontro com o autor de “O Corpo é que Paga” deu-se poucas semanas depois de o antropólogo chegar. Numa festa de São Martinho na zona da Graça, foram ter com ele duas sexagenárias anónimas. Disseram-lhe que dava ares de António Variações. Ele recorda, em conversa com a Time Out Lisboa: “Nunca tinha ouvido falar de António Variações e mal conhecia a cultura portuguesa: Madredeus, Amália, Ana Moura e o Benfica, pouco mais.”
Nos meses seguintes, as semelhanças físicas entre um e outro – a barba, os brincos, os anéis, o olhar – continuaram a ser-lhe relembradas a cada passo. Vizinhos, colegas de trabalho, taxistas. Começou a ficar curioso. Fez umas pesquisas na internet e foi ter à biografia Entre Braga e Nova Iorque (2006), de Manuela Gonzaga. Estava encontrado o caminho.
“É uma casualidade única: ser parecido com alguém que morreu há quase 30 anos, que teve uma vida incrível e ainda hoje está rodeado por uma aura mágica”, avalia. Daí à ideia de um documentário, foi um pequeno passo.
Em 2010, os programadores de Guimarães Capital Europeia da Cultura encomendaram-lhe um filme na sua área de trabalho, a antropologia visual. E Variações pareceu-lhe evidente. O projecto acabaria por cair, devido a problemas por parte da organização, mas Paolo Favero não desistiu. Juntou-se ao produtor italiano Luca Gianfrancesco e começou a filmar. Já tem várias entrevistas feitas e muitas informações recolhidas. Mas espera completar a ideia ao longo deste ano.
O filme, intitulado Looking For António, não será uma biografia pura nem seguirá a linguagem televisiva, como a daquele documentário que em 1996 foi feito para a RTP por Maria João Rocha e Cristina Ferreira Gomes. “É a história de vida de Variações misturada com a história cultural de Portugal e sempre sob o meu ponto de vista: o facto de o ter descoberto por sermos parecidos”, explica o autor.
O antropólogo está fascinado com o facto de Variações ser uma figura muito popular, ainda que a sua homossexualidade pudesse ter gerado alguns anticorpos. “Ele tinha uma capacidade incrível de gerar amor, essa afectividade é enigmática, tal como o facto de Portugal ser um país católico e conservador e mesmo assim manter viva esta personagem, que de resto nunca foi oficial ou institucionalmente declarada importante.”
Paolo Favero conta terminar o documentário em Janeiro do próximo ano. Para já, procura financiamento.
quarta-feira, 15 de Fevereiro de 2012
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