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Ricardo Pinto

Site oficial : https://www.antoniovariacoes.pt/

E-mail: ricardodanielpinto1995@hotmail.com.

A cabeça sem juízo de António Variações

12-03-2011 21:06

 

A cabeça sem juízo de António Variações

O actor e encenador tem uma profunda admiração pelo músico, já desaparecido. Tanto que foi ao leilão das suas peças e comprou esta cabeça.

 

João Miguel Rodrigues

Peça custou 900 euros, mas quatro dias depois já lhe ofereciam 1.500. “Pelos vistos a cabeça sabe multiplicar...”, refere o actor

 

Para Júlio César todas as músicas do António Variações têm uma ‘estória’ diferente e podem ser objecto de várias leituras. Com elas já construiu um espectáculo, na sua opinião talvez o visualmente mais bonito, para o Casino Estoril. Chamava-se 'Variações-António' e tinha arranjos de Pedro Osório. Recorda-se que o protagonista era Fernando Pereira, que fazia de Variações, e lembra-se do final - É para Amanhã - cheio de girassóis gigantes.

Mas a escolha deste objecto, deve-se, talvez, por ser a sua mais recente aquisição e por ser uma imagem muito forte, que recorda, dos primeiros discos do António Variações. O que lhe diz mais é a obra do seu anterior proprietário. Sempre foi um admirador do António Variações e ter uma peça dele em casa agrada-lhe muito, até como forma de o recordar e homenagear. 'Depois e ainda porque adoro cabeças, rostos, caras. Penso que é por aí que descobrimos as pessoas. Esta cabeça, na minha leitura, não tem juízo,' acrescenta o actor Júlio César.

Este encontro entre comprador e objecto deu-se num recente leilão de peças do espólio do músico. O actor soube da venda pelos jornais e não resistiu à tentação de lá ir e trazer a cabeça consigo, ou não tivesse mesmo pensado; ' Esta não me foge'... e não fugiu. Esta cabeça veio juntar-se a muitas outras 'cabeçorras' espalhadas pela casa. Outras estão na casa do Alentejo. 'Há quem chame à minha casa de lá, a casa das cabeças. Há mesmo um biombo feito em cabeças de loiça, bastante original, e que é a menina dos meus olhos e dos olhos das cabeças também. Não é à falta de cabeças que deixo de pensar,' afirma a rir.

VARIAÇÕES, UM VISIONÁRIO

E como é que Júlio definiria Variações? 'Uma pessoa muita à frente do seu tempo. Um visionário meio louco, cheio de talento e que viveu tudo depressa demais...' E já agora, quando a cabeça não tem juízo o corpo é que paga? 'Ai paga, paga. Paga forte e feio ou pelo menos hipoteca-se. A minha cabeça tem correspondido ao corpo e o corpo à vida. Um passo de cada vez. Com juízo ou sem ele, a vidita tem acontecido sem sobressaltos de maior. Claro que às vezes dói-me o corpo, ' conta o actor.

Como também gosta de pintar, começa a pensar trabalhar pelo menos uma cabeça de loiça, branca, sem expressão, que está prometida. Vai tentar dar-lhe vida. Assim que tiver tempo é uma das coisas que quer fazer. E o prometido é devido.

UM COLECIONADOR DOS ESPELHOS DA ALMA

Júlio César explica o seu gosto pelas representações de cabeças, que colecciona:'No fundo, e se calhar é porque a cabeça é o suporte maior da inteligência, o ninho da massa encefálica, a torre do disco rígido de tudo o que pensamos e arquivamos em memória'. Suporte e cofre do que nos faz viver, mas também espelho das nossas emoções: 'A cabeça suporta a cara. O rosto e a expressão. O riso e o choro. Os estados de alma'.

O actor já perdeu a conta às estatuetas que guarda: 'Junto cabeças, de loiça, de barro, de gesso, sei lá ... Se todas elas pensassem um bocadinho talvez a minha casa fosse a grande confusão. E, muito provavelmente, com tanta cabeça já é.'